quinta-feira, 21 de julho de 2016

O Escritor


Repassar sentimentos para a escrita, não deixa de ser uma arte.
Redigir o que se sente é uma questão de sapiência. Sim, pois vários eruditos, que apresentam estilo rebuscado são maçantes, enquanto outros em simplicidade  alcançam  graça e harmonia.
Grafar é incluir pessoas ao seu rol de conhecidos e quantas vezes ao meditar certas páginas nos sentimos muito próximos de quem as escreveu.
Concretizar em linhas os pensamentos é modificar conceitos e a boa  literatura não deixa de ser um modo prazeroso de abrir fronteiras, de alargar os estreitos horizontes humanos.
Cada escritor traz em si um germe, que poderá ser ou não desenvolvido, e ainda bem que muitos deixaram suas raízes nesta Terra para o nosso aproveitamento.
Quisera que todo escritor tivesse a chance de desenvolver seus talentos. Porém, os meios para que isto viesse acontecer estão escasseando, pois vemos no dia a dia boas publicações não lidas. E, é uma lástima que os interesses descambem para trivialidades.
Que a mentalidade se alargue, que as fronteiras se expandam, e que bons princípios se disseminem!
Um autor é uma ponte que nos leva a enxergar sob o seu prisma.
Que conheçamos muitos e muitos deles, e que a nossa gratidão recaia por sobre aqueles, que se privaram de tanto, para nos proporcionar a graça de ampliarmos nossos horizontes!


Memória Solta


Memória solta, que teima em revivescer, em mansos mares ou águas revoltas, sentinela viva do aquiescer, se vai envolta, se levanta, das mantas profundas do reaparecer.
Momentos fortes, fulgurantes, jazem em lôbregos lagos inconscientes, vêm à tona surpreendentes, dos refolhos em jazidas comoventes.
Maresia mostra e anistia, instiga e alicia, as  dobras em cuidados resguardadas. Ocultos segredos degredados, dormem em conchas servis e nacaradas.  Vigem côncavas cavernas escuras, tristes solitárias sombreadas.  O medo susta em mil obstáculos, segura, para não subirem à tona, as partes precárias.
Soares cativos de ondas que borbulham, num eterno romance ao mar de sentimentos. Meros conflitos que retornam, na forma ora vivenciada, o passo, o episódio e o momento.
Marulhos de tormentas, ondas que rebentam, orgulhos que entorpecem, suavidades que florescem em mornas calmarias, aonde ternas elegias vêm desfilar.
Mar do passado permanece no presente, onde risos contentes têm lugar para se aninhar. Vésperas nuviosas, poentes cor-de-rosa, manhãs claras e carinhosas em aprazíveis frescores vêm desabrochar.
Contracenam o agora e o antanho, onde o tamanho da herança mora, nas dobras da lembrança, nas profundas camadas da memória.

 Laís Müller 
  Brasil

Brilhos





Um minucioso olhar pode perder-se na vastidão e voltar-se a um único ponto.
O perscrutar demoroso a entreter-se na amplitude , na imensidão se banhar, abandonando-se de pronto a repousar em longitude alargada.
Mirar profundo num arremesso febril, centrando o enfoque numa alvura gentil, irradiando brilhos de fulgores mil, enquanto do mundo as tristuras parecem ter ido embora.
Alva aurora contornada em feitio de flor, oferecendo aos olhos um desafio promissor, de embrenhar-se nesta alvorada onde a beleza mora.
Flor cantada amiúde pelos trovadores, simbolizando a pureza, a inocência e a mansuetude, enlevo singular alastrado na cultura popular como a mais nobre entre as flores.
Lírios bucólicos a evocar Virgílio, simbólicos protagonistas campestres, idílios silvestres, paragens gálicas esmaecidas, que remanescem dos vigores célticos.
Lírios exemplos floridos, coragens renascidas na terra agreste, onde verdores não brotam e as pedras sufocam, onde canções fenecem, lírios florescem. Comprovam que a vontade é fremente, força veemente que habita a todos. Vicejar é a máxima, florescer é imperioso.
Lírios formosos, sementes que germinam na terra ácida, fria, sem candidez. Lírios por sua vez nos mostram, tácitos e cândidos, que a vida flui. Exuberantes e perfumados, exalam pólens alados, festa em cores matizadas, é retumbante a vibração.
Dentro de uma simples flor um Universo, lírio é verso de amor!